Faz de conta que sei de que estou a escrever, não tarda saberei. Seja por identificar ou identificar-me com o que escrevo, no fazer da escrita.
A crónica é um género particularmente generoso, faz-nos parecidos com alguém que tem “algo para dizer”, mesmo se apenas dá a ler interrogações.
Este misto de certeza e incerta “qualquer coisa” dá azo a dedicar-me a escrever com o que vai acontecendo neste juntar de palavras.
Evito deste modo, tento evitar, deixar que o leitor avance muito depressa, ficando a saber muito mais que eu que, devagar, ainda vou aqui, devagar.
Colecciono as frases, vou-as juntando. Quando de repente encontrar um filão, começarei a garimpar ao lado. Estou a prospeccionar, apenas isto.
Tenho para mim ser no fazer da escrita que a escrita se faz de forma mais delicada, com minudências de pausas com virgulas e ponto e vírgulas…
Se eu tenho uma ideia e preciso urgentemente escrevê-la para não a perder, eu nem me dou conta de estar a escrever, tento apenas não esquecer...
O vagar da escrita é uma coisa bonita e boa, como os pés cruzados das pernas estendidas e repousadas. Olho para o longe e visto de perto, o horizonte aproxima-se ou afasta-se.
Acabo, porque acabo, ao cabo – do que quis – escrever.
1 comentário:
Repouso as palavras agora neste texto...Vou saboreando sem saber ou não o que vou escrever. Vão saindo uma a uma, sem pedir permissão.
Foco-me agora nas minhas pernas cruzadas e nos meus ténis macios que me afagam os pés. Sou um misto de contradições, quando questiono porque me afeiçoo tantos a estes ténis.
Porque sentimos apego pelas coisas?
Porque tenho vontade de te ler e de me embrenhar neste amaranhado de ideias sem ter ideias nem frases guardadas para te escrever.
Só sei que preciso deixar aqui um registo meu, para que mesmo sem ideias, saibas que durante este periodo os meus dedos tocam este teclado e o meu pensamento foca-se agora no que acabo ao cabo do que quis escrever.
Um beijo meu
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